Quais os perigos de levar para a “vida real” comportamentos da “vida digital”?
Durante esse mês vamos falar de relacionamentos nos tempos modernos. Pode parecer bobagem, mas não é: os relacionamentos estão mudando muito – e muitas pessoas não estão conseguindo entender o que está acontecendo. Seja pela urgência e velocidade da comunicação e as facilidades introduzidas pelas tecnologias, ou apenas pelo excesso de opções, existe um ponto de interrogação sobre e/ou dentro da cabeça de muitas pessoas que não estão entendendo a tônica dos relacionamentos.
Eu estava zapeando a TV e me deparei com o Tiago Leifert apresentando o Big Brother Brasil. Mesmo não acompanhando ao programa diariamente, parei porque ele disse uma coisa interessante aos confinados: vivemos o tempo de “follow” e “unfollow”… ou seja: tempos de seguir e deixar de seguir. As pessoas estão agindo, na vida real, da mesma maneira que agem nas redes socias: quando não gostam de um comentário, ação ou comportamento do outro, simplesmente dão “unfollow” no perfil – e fica tudo por isso mesmo.
Qual é o caminho?
Os nossos relacionamentos têm mudado de forma tão absurda que nós não entendemos mais que caminho é esse que estamos seguindo. Nos perdemos diante de tanta correria. Parece que está todo mundo com tanta pressa, seja querendo comunicar alguma coisa ou querendo ver o que o outro comunica, que falta uma verdade emocional. Tudo ficou superficial nessa modernidade, infelizmente, principalmente os relacionamentos. As mensagens estão mais curtas, mais agressivas, mais constantes, porém estão cada vez menos humanas.
Aqui nos Estados Unidos existe o que chamamos de worriors (ou guerreiros). Isso quer dizer que existe, hoje, uma máscara muito fácil de encontrar e está sendo muito utilizada: o guerreiro online. Essa persona é aquela que se esconde por trás de uma tela e, assim, coloca todo o ódio, toda a raiva, toda a frustração em comentários agressivos – algo que ele jamais falaria olho no olho.
Atrás dessa tela, encontramos um monte de gente muito corajosa, que consegue dar opinião para todo tipo de assunto. Diariamente acompanhamos posts e comentários de vários experts em tanta coisa! Mas não experts de fato, aqueles que estudaram um assunto profundamente. Não, pessoas que conseguem julgar a atitude do outro, mesmo sem nunca terem “usado os seus sapatos”. Ao invés de empatia, vemos dedos apontados na cara.
Também há aqueles que conseguem participar, entender e contribuir com conversas que, na vida real, jamais teriam coragem ou chance de participar. Vemos diversos cidadãos (ou personagens?) repetindo discursos aleatoriamente, alguns deles desconexos e sem profundidade, apenas para terem a chance de serem visto. Apenas compartilham fatos e ideias sem refletir sobre aquilo que estão dizendo ou passando para frente.
É nesse cenário que vemos uma infinidade de “follows” e “unfolows”. Pequenos cliques em “seguir” ou “deixar de seguir” geram brigas e discussões desnecessárias, porque as pessoas não conseguem sair da superfície.
E o amor naufraga na superfície
Minha especialidade como coach é na área de relacionamentos. E, embora os relacionamentos sejam abrangentes – podem ser fraternais, familiares, profissionais – o meu foco são os relacionamentos amorosos. E é nesse setor que vejo com mais pesar os reflexos do comportamento “follow” e “unfollow”. Hoje, em tempos de redes sociais e aplicativos de comunicação, como o WhatsApp, cerca de 40% dos casais terminam o relacionamento por mensagem de texto.
No campo das amizades também não é muito diferente. Uma grande quantidade de amigos, conhecidos e até familiares brigam por questões relacionadas a essas ferramentas – que deveriam aproximar e incrementar o relacionamento entre pessoas que não conseguem estar juntas com a frequência que gostariam.
Antes de parecer pessimista, quero ressaltar que esse é um momento de aprendizado para todos nós. E sugiro uma reflexão: como ser autêntica na sua verdade e aceitar a verdade do outro também? Caso você siga muita gente – nas redes sociais e na vida real – já sabe onde fica a linha entre o “sigo” ou “não sigo”?
Faço essas perguntas porque, antigamente, nós seguíamos até o final. Amigo era amigo. Infelizmente, no mundo moderno e na pressa que nos atinge no cotidiano, esse tem sido um desafio bem grande: seguir até o final; respeitar opiniões diferentes; refletir sobre o que realmente sabe antes de opinar; usar a empatia ao invés de julgar.
Preparada para se reencontrar nesse universo tão grande e urgente?
Miria Kutcher